A
ética tem sido temática constante nos últimos anos entre as mais diversas
classes e entidades existentes em nosso país. Não é pra menos, afinal é de suma
importância o debate e a adoção de medidas protetivas para que não sucumbam os
interesses e objetivos profissionais e sociais de dadas carreiras.
Dentre essas medidas, os conselhos
profissionais optaram por estabelecer um apanhado de condutas “mínimas”
permissivas e proibitivas, denominado código de ética. O referido regramento tem dentre outros
intuitos estabelecer ou manter uma convivência harmônica entre os profissionais,
bem como vetar qualquer infração que possa ir de encontro aos objetivos da
classe ou provocar qualquer dano social evitável.
Mas afinal, quais as causas e
soluções para a falta de ética? Quem são os culpados do surgimento desse
problema? Estamos no caminho de um país ético?
Pois bem, senhores(as) não é novidade
que no Brasil vivemos, atualmente, uma verdadeira avalanche de profissionais no
mercado de trabalho (nas mais diversas áreas de atuação). A priori, podemos
atribuir esse fato a um provável desenvolvimento tecnológico, econômico e
cultural do país, entrementes sinto lamentar não ser esta a realidade.
Há muito tempo, o governo brasileiro
na ânsia de apresentar índices que coadunem com um “desenvolvimento” digno de
um país em ascensão que tenham retornos eleitoreiros, vem adotando medidas
imediatistas e pouco eficazes, porém bastante populares. Como exemplos, cito:
Cotas raciais; Prouni; Bolsa família; Bolsa escola; Programa minha casa minha
vida; Mais médicos entre outras.
A adoção destas medidas muito me faz lembrar
a “política do pão e circo” (panem
et circenses). De origem romana, a expressão faz alusão ao modo de
fazer política do império à época, onde escondiam as corrupções existentes e em
troca de eventos e espetáculos acompanhados de alimentos e migalhas, o
imperador conseguia o apoio de uma população miserável desprovida de educação e
pouco interessada na política de sua nação.
O fato é que vivemos em um país de
misérias, mal educado, porém camuflado por índices fajutos. Somos hoje,
infelizmente, o Brasil das contradições. Onde o acesso a educação básica é
complexo e dificultoso, mas a um diploma de bacharelado é simples e financiado.
Onde se recebe dinheiro, ao invés de conhecimento, pela assiduidade em salas de
aulas. Onde se tem poucas verbas pra construção de hospitais, mas que se têm
verbas suficientes pra estádios de futebol. Onde se forma muitos profissionais,
mas se necessita contratar estrangeiros para preencher os postos de trabalho.
Enfim senhores, de um país com tantas
contradições, corrupções e erros de formação, não dar pra esperar nem mesmo
coerência, como se pode então falar-se em ética? Afinal sabemos ao menos o que
significa ética? O que esperar de “profissionais” que tem sua formação
acadêmica galgada em valores destoantes dos objetivos de suas funções? Seria
mesmo dinheiro e status tudo em uma carreira?
Essas perguntas serão cada vez mais repetidas
doravante, mas quanto às respostas, não sei sinceramente quando e como às
conseguiremos, espero que não tardiamente.
O conceito de ética está diretamente
ligado a cidadania e respeito para com o semelhante. É saber respeitar, agir na
legalidade, ser equânime, enfim ter valores e princípios basilares.
Esses valores têm sido cada vez mais
deixados em segundo plano, desde nossa educação familiar até os bancos de faculdades.
Não nos é passado à importância de aprendermos a cumprimentar pessoas, sem
olharmos antes para a roupa que veste ou para automóvel que conduz. Nossos pais
e professores nos ensinam que devemos estudar para garantirmos nosso futuro,
mas sempre vinculam essa “garantia de futuro” a aquisição de dinheiro e status
sociais. Criamos máquinas de captar dinheiro, sem primarmos por qualquer
critério de qualidade enquanto ser humano.
Não se trata de hipocrisia criticar a
vinculação das profissões a dinheiro, não defendo ser justo que se trabalhe por
valores desumanos. Mas acontece que este
não deve ser o objetivo principal de nossas vidas e carreiras. Desgosta-me
saber que nossos jovens cada vez menos falam em “vocação profissional” no
momento da escolha de sua profissão. O que causa ainda mais indignação é não
ver qualquer atitude por parte de nossos representantes para mudança desse
quadro, muito pelo contrário, temos em nossa política péssimos exemplos de
ética.
Por todos esses fatores aqui citados,
acredito que sempre mais a frase do ilustre Rui Barbosa torna-se atemporal e
moderna:
“De tanto ver
triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a
injustiça, de tanto ver agigantar-se o poder nas mãos dos maus, o homem chega a
desanimar-se da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto”.
CATOLÉ DO ROCHA-PB, Novembro de 2013
HILDEBRANDO DINIZ
ARAÚJO JÚNIOR
ADVOGADO - OAB/PB 17.617